sábado, 4 de abril de 2009

História do Açude de Coremas


Localizada no Baixo Sertão Paraibano, Coremas-PB ganhou o título de "O Oásis do Sertão", devido possuir o maior complexo hídrico do estado da Paraíba.

HISTÓRIA DO AÇUDE ESTEVAM MARINHO

O Açude de Coremas:

Introdução: Em data de 03 de outubro de 1930 (sexta), o Brasil é sacudido pela eclosão da Revolução de 30, que terminou por colocar no poder o gaúcho Dr.Getúlio Dornelles Vargas(1882-1954), em 03 de novembro de 1930 (segunda). Foi um levante militar começado no Rio Grande do Sul, que contou com os apoios da Paraíba e Minas Gerais (Aliança Liberal) o movimento vitorioso governou, por durante longos 15 anos de 03 de novembro de 1930 até 29 de outubro de 1945 (segunda). Portanto toda obra gigantesca do açude de "Curema" (então vila de Piancó-PB), foi construída no período do Presidente Vargas. Fora marcante a presença do grande paraibano, Dr. José Américo de Almeida (1887-1980), no cargo de Ministro da Viação e Obras Públicas, pois o governo Vargas havia estabelecido o "Plano de Ação", dentre os quais constavam os programas de construções de açudes no nordeste do país, com a finalidade de combater os efeitos dos flagelos das estiagens ( as secas), inicialmente o sertão paraibano não tinha sido contemplado; porém com o prolongamento da seca 1931/32 e a firme decisão do Ministro José Américo de Almeida (1887-1980), fora autorizada a inclusão da Paraíba, com determinação de logo iniciar a construção do açude de Curema, que tinha a grande finalidade de perenizar os rios Piancó e Piranhas, isto nos meados de 1932. O Ministro Paraibano chegou a exercer o cargo simbólico de Governador Provisório do Norte do país, considerado que foi, um dos líderes civil da vitoriosa Revolução de 30, nas regiões Norte/Nordeste.

Antecedentes: No começo do século XX ( durante a década de 10) ocorreu uma preocupação com os aproveitamentos dos acidentes geográficos tipo garganta, ou seja, um boqueirão entre duas serras, para que fosse repressada como açudes públicos, tendo-se manifestado favorávelmente dois ilustres escritores brasileiros, o Sr .Euclides da Cunha falando que é importante o aproveitamento dos boqueirões na obra preventiva contra as secas, notadamente no Nordeste, reafirmou isto depois que viu a face dramática do povo sertanejo, no famoso episódio da "Guerra de Canudos"(1893-1897); o outro foi Sr. Irineu Ceciliano Pereira Jofilly(1843-1902) - escritor paraibano) que dizia que o boqueirão é um local feito pela natureza para uma barragem. Enfim os primeiros estudos realizados em Coremas-PB, para viabilidade do grande açude foram autorizados pelo governo federal em data de 08 de agosto de 1911 (terça), tendo efetivamente iniciado 10 dias depois e com conclusão em data de 30 de novembro de 1912 (sábado), o órgão que era a "Inspetoria de Obras Contra as Secas" (atual DNOCS). Tendo a frente seu diretor, muito competente, o Engenheiro Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa (1º Diretor Geral), sendo o Presidente da República, o Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca (1910-1914), depois fora os estudos arquivados até idos de 1932, quando o já citado ministro paraibano do Governo Vargas, tirou-os do mundo dos planos e dos projetos. Fazendo aparecer em pleno sertão da Paraíba uma obra admirável da engenharia brasileira.

Os preparativos da Obra: À medida em que iam concluindo a construção do açude de São Gonçalo (em Souza-PB), os funcionários responsáveis pelo serviço topográfico eram enviados para Coremas-PB, chegando os primeiros no 2º semestre de 1933 (setembro), porém somente em outubro de 1934, tiveram início os trabalhos dos canteiros de obras, e as chegadas das primeiras máquinas para terraplanagem. Finalmente meados em 1935, foram construídas as principais edificações como: refeitório-hotel, barracões, dormitórios, garagens e escritórios, além das casas da vila operária, que inicialmente recebeu o nome de "Acampamento do Curema" (hoje DNOCS). Com a inauguração do Açude São Gonçalo, em 06 de fevereiro de 1936 (quinta), terminou por vim um grande contingente de operários, tornando-se a construção da barragem de Coremas-PB, uma prioridade do Governo Federal.

Observação: O primeiro aproveitamento hídrico da Paraíba foi com a conclusão da barragem de Bodocongó em Campina Grande-PB, em 1915/1917,que teve sua capacidade de acumulação prevista para apenas 1020 m³.

A Barragem do Açude de Coremas: Foram necessárias quatro barragens para assegurar o imenso volume de água que se pretendia acumular no local, uma barragem principal no boqueirão e outras três auxiliares, em gargantas vizinhas. A data exata do início da construção ocorreu em 08 de abril de 1937 (quinta) e teve a conclusão precisa em 08 de maio de 1942 (sexta). A Barragem principal é de terra zoneada e provida de uma cortina impermeabilizadora de concreto armado, com 0,10 m de espessura na crista e 0,80 m na base, sendo pintadas as suas faces com inertol. Justaposta à cortina vem uma camada de areia grossa de 0,80m da espessura disposta verticalmente ao longo de sua face de jusante. O sistema de drenagem é composto de areia e de um lastro deste mesmo material em que é assente o maciço de terra de jusante da barragem, cuja saia é protegida por "rock-fill" de seção trapezoidal. O maciço de terra é composto a montante da cortina de material selecionado e a jusante da mesma de material de segunda ordem. A extensão pelo coroamento (barragem) tem um espaço de 1550 metros com altura máxima calculada em 50 metros, além de sua largura no coroamento ser de exatos 10 metros.


Observação: Os estudos hidrológicos foram realizados pelo engenheiro Francisco Gonçalves de Aguiar com a precisão que os dados disponíveis na época puderam oferecer. Os dados de chuva foram obtidos por observação direta no período 1910-1940, em quatro postos no interior da bacia hidrográfica dos rios Piancó e Aguiar. As descargas máximas foram calculadas tendo em vista os níveis d'água máximos registrados e as precipitações observadas na bacia hidrográfica em função da maior altura da chuva ocorrida. De posse desses elementos foram calculadas as possibilidades das bacias hidrográficas dos citados rios, resultando para os dois açudes a capacidade total de 1.358.000.000 m³. A barragem de Coremas, ficou assim por alguns anos conhecida até que por ordem do diretor geral do DNOCS, Dr. Elísio Carlos Dale Coutinho (1954-1955) ocorreu a mudança para o nome oficial atual homenageando o seu construtor, o engenheiro Estevam Marinho (na época já falecido) em data de 08/julho de 1955 (sexta).

Os Jovens Engenheiros Idealistas: O açude de Coremas nasceu grande, imponente, considerado como um marco na engenharia nacional e portanto orgulho de toda uma geração de engenheiros brasileiros, muitos trabalharam nas diversas fases da construção, dentre eles destacamos, além do seu engenheiro-chefe Dr. Estevam Marinho (1896-1953), os engenheiros Renê Becker, José Correia de Amorim, Júlio Maranhão Filho, Manoel Santos de Figueira, Vilibaldo Coelho Maia, Egberto Carneiro da Cunha, Ivanildo Marinho Cordeiro Campos, Luciano Reis, Sebastião de Abreu, Otacílio dos Santos Silveira e Mario Brandi Pereira (os dois últimos fundaram o primeiro laboratório de Mecânica dos Solos do Brasil, em Coremas-PB) e finalmente o engenheiro Vitoriano Gonzalez y Gonzalez (espanhol radicado na Bahia) a quem coube concluir a obra da barragem de Mãe D'agua (1957).

A Barragem do Açude Mãe D'água: É do tipo submersível em concreto ciclópico com perfil Creager. No pé da jusante apresenta um dissipador de energia do tipo salto de esqui, que funciona como vertedouro do sistema. A descarga de fundo é formada por dois tubos de aço com diâmetro de 2,10 m e comprimento de 193,83 m alojados numa galeria de concreto armado em forma de arco. Com a barragem principal chegando ao término, teve logo em seguida o início as locações em Mãe D'água, no local conhecido por Riacho Seco (no rio Aguiar), isto em meados de outubro de 1941. Porém as fundações tiveram seu começo em 1943, entretanto a sua definitiva instalação da concretagem foi em data de 10 de novembro de 1948 (quarta) quando ocorreram 72 horas de trabalho sem interrupções, e terminando a solene conclusão,com a última camada de concreto armado, elevada pelo guindaste principal, conduzido na ocasião pelo Sr. Edvaldo Brilhante da Silva (conhecido por "Boinho") em data exata de 21 de Dezembro de 1957 (sábado). Recentemente, a barragem de Mãe D'água, recebeu o nome do Engº Egberto Carneiro da Cunha, numa justa homenagem (porém poucos tomaram conhecimento até hoje).

As bacias hidrográficas dos açudes Coremas e Mãe D'água são ligadas por um canal vertedor (sangradouro), formando então um conjunto ligado para efeito de sangria, ou seja, um lago único com uma superfície líquida de 9794 hectares, na cota de repleção máxima. Calculou-se a seção do canal de ligação de maneira a dar vazão nas condições mais desfavoráveis de ocorrência, a uma descarga máxima de reforço do Coremas para o Mãe D'água, ou seja, de 12 m³/s. Esta localidade chama-se, atualmente, "Sangradouro" nas próximidades do campo de aviação. Quando encontra-se cheio, todo o sistema Coremas-Mãe D'água durante os bons invernos, como os inesquecíveis anos de 1967 e 1985, a barragem de Mãe D'água vira um lindo ponto turístico da região, uma vez que a queda d'água proporciona um majestoso espetáculo visual, um fator de grande potencialidade turística a ser explorado pelo turismo local, lembrando ainda a existência do túnel ligando as duas serras do boqueirão, dentro da própria barragem que é oca.

As Máquinas e os Materias utilizados: Com o gigantismo da barragem foram utilizadas inúmeras máquinas, algumas estranhas para o homem da região, chegando a causar tremendo espanto e admiração,citamos:guindastes, compressores, britadores, motor-bombas, guinchos, vibradores, locomotivas (as famosas Cafuringas), tratores, caminhões, escavadeiras, trac-truc, marteletas, betoneiras, troley, caçambas, etc. Quanto aos materiais foram usados os mais adequados e disponíveis no mercado brasileiro, pois o Governo Federal nunca negou verbas e assim foi durante todo o cronograma traçado, despertando as visitas na obra de três Presidentes da República (Vargas-Dutra-JK) e além de sua repercussão em toda região nordestina (notadamente no sertão), citamos alguns materiais: pedra (retirada das pedreiras próximas), areia, brita, água, prego, cimento, ferro, arame, bronze, tubos de brasilite, asfalto, betonita, trilho, chumbo, aço, tábua, mangueira, etc.

O maior Açude do Brasil: O açude de Coremas-PB foi considerado o maior do Brasil desde seu término em 1943 até a inauguração do açude de Orós-CE em 1960, esta outra barragem gigante recebeu o nome do Pres. Juscelino Kubistchek de Oliveira(1902-1976), e a sua capacidade é de 2.100.000.000 m³.Porém em 1983, foi inaugurado o maior de todos, o açude de Açu-RN, que recebeu o nome do Engº Armando Ribeiro Gonçalves, a sua capacidade é de 2.400.000.000 m³. As águas do sistema Coremas-Mãe Dágua, desaguam neste, tendo surgido um fato curioso para sua inauguração com a visita do presidente João Batista de Oliveira Figueirêdo (1979-1985), fez-se necessário esvaziar bastante o nosso açude,pois só assim foi possível acumular água no novo açude, que o Regime Militar (1964-1985) construiu como o maior do Brasil, para suplantar o próprio presidente Juscelino (teve seus os direitos políticos cassados), que havia feito o de Orós-CE. O Açude de Coremas-PB, tem sua capacidade de acumulação somada num único sistema integrado em 1.358.000.000 m³, ficando hoje em terceiro lugar, tendo ocupado por longos 18 anos, o posto de maior do Brasil.

O Projeto de Irrigação (Canal Coremas/São Gonçalo): Fazia parte realmente do projeto original, uma vez que o engenheiro Dr. Estevam Marinho (1896-1953) realizou as duas obras, e idealizou um sistema integrado porém entretanto não foi levado a termo e somente hoje (1996) voltou a despertar interesse nos políticos da região, especialmente os das áreas beneficiadas como São Gonçalo - Souza-PB. O último político de peso a encarar seriamente a viabilidade do projeto foi, o recém-falecido, governador Antonio Marques da Silva Mariz (1937-1995), porém seu vice, Dr. José Targino Maranhão encampou de imediato a iniciativa do político souzense. Conforme o projeto atualizado(os primeiros são da década de 40), o canal Coremas/São Gonçalo, constituirá na reversão de nossas águas que saem por Mãe Dágua, para irrigar cerca de 5 mil hectares de várzeas férteis na região polarizada por Souza-PB, a obra prevê a construção de 57 km de extensão de canais, está orçada atualmente em cerca de 58 milhões de Reais do Governo Federal. A obra constará de um canal propriamente dito, várias pontes, alguns túneis, etc. Ao que tudo indica beneficiará plantadores de cereais, hortaliças e ainda frutas tropicais.

Observação (1): Que a formação do lago (espelho d'água) de Coremas/Mãe D'água, não poder ser ainda maior, em virtude do recuo das águas nas grandes enchentes atingirem fortemente bairros periféricos da cidade de Piancó-PB, o que não seria justo para com a centenária cidade paraibana (pioneira no povoamento da região sertaneja).

Observação (2): Que a barragem de Coremas sempre reagiu satisfatoriamente dentro dos conceitos da séria e competente engenharia de construção de barragens, pois nunca apresentou problemas técnicos antes, ou durante e após a construção do açude. É uma obra sólida e de referência do tipo de terra zoneada (BTZ). Observação (3): Que a maior enchente do reservatório ocorreu entre Abril/Maio/Junho, o temível inverno de 1967, quando causou medo e apreensão em todos os habitantes de Coremas-PB, e outras cidades ribeirinhas ao longo dos rios Piancó/Piranhas/Açu. A quantidade do volume foi de tal montante que chegou próximo de cobrir a extensão do coroamento (barragem) foi-se necessário "arrombar" uma das três barragens auxiliares (a escolhida foi do Pacatônio), pois as duas turbinas da barragem principal, o vertedouro de Mãe D'água, não foram todas suficientes para conter a enorme pressão volumétrica, espetáculo grandioso ocorreu em 1985 (porém sem os riscos históricos de 1967).

Observação (4): As piores estiagens, que ocorreram foram as registradas no começo da década de 80, principalmente nos terríveis anos de 1983/84, chegando ao ponto de esvaziar profundamente o nosso reservatório, quando tornaram-se visíveis inúmeras ilhas, cacimbões, casas velhas de fazendas inundadas nos anos 40/50. As principais causas foram três, sendo elas: longa estiagem, evaporação pelo espelho d'água e saída de volume d'água durante todo período seco, principalmente para contribuir na construção e depois inauguraçào da barragem de Açu-RN.

Observação (5): Que o açude de Coremas, sempre sangrou pela barragem de Mãe D'água, pois em época de cheias, os dois açudes formam um lago único (tipo barragem xipófagas - irmãs gêmeas), mesmo durante a construção da barragem Dr. Egberto Carneiro da Cunha (Mãe Dágua), quando as obras eram interrompidas no estágio que estavam, deixando as águas passarem "tranquilamente" sobre as partes já concluídas, perdurou até o término em definitivo no final de 1957, quando foi enfim concluído todo o vertedouro (a pista de esqui).

Observação (6): Que o abandono ao qual está relegado o açude de Coremas/Mãe D'água é um ato desrespeitoso e impatriótico com o Brasil que o fez nos anos 40. É triste constatar o descaso governamental das últimas décadas, quando o sistema hídrico, passou pelas mãos de vários ministérios, contribuindo ainda mais com o desmantelamento do DNOCS. Observação (7): Que o açude Coremas/Mãe D'água precisa, urgentemente, encontrar um novo direcionamento nas suas diretrizes, ou seja, achar uma identidade própria; e esperamos que ocorra como em outros açudes, a de exemplos: Açude Boqueirão de Cabaceiras (com o turismo efervescente capitaneado por Campina Grande-PB), Açude Itãns (polo de turismo aquático em Caicó-RN), além de outras potencialidades existente como: o aproveitamento pesqueiro, hidrelétrico, perenizador de rios. A população da cidade nunca entendeu porque o maior açude da Paraíba, jamais teve um projeto sério, viável economicamente no setor da irrigação, tendo em vista, que outros reservatórios insignificantes foram contemplados, a exemplo de São Gonçalo (Souza-PB), Sumé e Condado. As autoridades federais ligadas à autarquia (DNOCS) tem historicamente negado uma explicação plausível ao povo coremense, e é por isto que o marasmo continua aos dias atuais. Mais recentemente com o canal, a ser construído os moradores não sabem quais os benefícios pratícos que possam usufruir.

Texto retirado do Livro "Coremas, o seu lugar na história", do escritor coremense Edvaldo Brilhante da Silva Filho.

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